Carlos Calsavara
Nasci em berço histórico, estilo barroco mineiro. São João del Rei me ofereceu um rico cenário
para desenvolver meu talento nato que foi alimentado cedo com arte sacra. Desde criança que
o desenho, a pintura e a escultura me encantam e no universo lúdico da infância passaram
a ser meu passa tempo favorito. Com o tempo, essas atividades tão prazerosas tornaram-se
minha profissão.
Trabalho profissionalmente como escultor em madeira desde 1997, atendendo a considerável
demanda em uma cidade na qual as tradições desafiam os séculos e que vem se tornando
um polo nacional de arte sacra. Tudo começou em família mesmo, fiz uma imagem de São
Judas Tadeu em pedra-sabão para uma gruta de uma tia minha, outras pessoas viram e
começaram a me procurar e assim sucessivamente. Isso possibilitou lapidar meu talento
através da experiência prática, hoje, meu trabalho é bem diferente daquele de outrora, é um
aperfeiçoamento constante...
Ao observar uma escultura pronta, raras vezes o espectador consegue imaginar o processo
de confecção da obra, provavelmente porque não o conheça. De minha parte, acredito que
elucidar a esse respeito é uma tarefa importante para que as pessoas possam ir além da
admiração estética rumo aos bastidores ocultos e não menos interessantes da profissão.
O processo de confecção de uma obra segue várias etapas. Primeiramente procuro sondar
as preferências do cliente e o papel que a obra irá desempenhar para ele e ou para o público
destinado. Calcado nessas informações, elaboro um croqui e posteriormente um estudo em
desenho mais detalhado para apresentação e referência. 1
O processo escultórico requer a priori um bloco principal, logo, é preciso aplainar as pranchas
de madeira e colar as superfícies montando-se o bloco. 2
Em seguida começo o trabalho de escultura e contando com o auxílio de uma serra elétrica
faço o esboço geral do volume 3. Posteriormente as goivas e formões em formatos mais
diversos fazem a vez ao talhar a madeira inserindo detalhes contrastantes 4.
Com a talha pronta, a obra é lixada para suavizar a superfície retirando marcas indesejáveis
das ferramentas. Essa é a etapa final do processo de escultura que agora entra para a fase de
policromia (pintura).
O processo de policromia é feito tradicionalmente à moda europeia. Todos os materiais são
de origem orgânica e importados em sua maioria. Isso atende a uma exigência da madeira que
se movimenta constantemente com a umidade e temperatura. Tais materiais permitem essa
“respiração” através de si, garantindo assim uma pintura capaz de durar por séculos.
Antes de aplicar a pintura é necessário nivelar a superfície da madeira com gesso especial
preparado com cola animal. 5 Após algumas camadas o gesso é lixado conferindo à obra um
aspecto suave e agradável para receber o ouro.
O ouro é aplicado sobre algumas demãos de “bolo armênio”, uma espécie de pasta de argila
ultrafina preparada com cola animal. As folhas de ouro são assentadas após umedecer-se a
superfície com uma mistura de cachaça e água. Após secar é necessário brunir o ouro com
ferramentas feitas de pedra ágata lapidada chamadas de brunidores. Isso “acende” o brilho do
ouro dando aspecto de metal fundido e polido 6.
Em algumas obras usa-se o esgrafiado, desenhando motivos em ouro que ornamentam os
tecidos. O esgrafiado é feito após a aplicação de uma camada de têmpera (tinta a base de
pigmento mineral e gema de ovo como aglutinante) sobre o ouro. Após secar, usa-se um palito
de madeira macia para aranhar a têmpera com cuidado e assim os desenhos vão se formando
ao retirar a camada de tinta e descobrindo o ouro7.
A carnação (nome conferido à técnica de pintura onde se representa a pele na imagem) é feita
com tinta óleo tradicional usando-se indefinidas camadas de cores e diluições diferentes. Isso
permite explorar a transparência da tinta entre as camadas e confere um aspecto muito real à
obra 8.
A finalização é feita com uma cera natural preparada especialmente para selar e proteger a
policromia.
Do início ao fim de uma escultura o processo exige meticulosidade, dedicação e paciência.
Isso independente do tamanho da peça. As esculturas menores que faço pedem a mesma
dedicação e principalmente meticulosidade para com os detalhes.
As obras são encomendadas com boa antecedência, principalmente no caso de datas
específicas. Os tamanhos são variados e atendem especificamente a cada caso, as obras
maiores são destinadas às igrejas e as obras de menor tamanho geralmente são réplicas de
outras esculturas cujas quais o cliente sempre desejou ter em sua casa ou apartamento, seja
para devoção ou para apreciação própria.
Processos a parte, o mais importante na arte sacra é fazer “ponte” entre o campo físico
e o Espiritual, levando o fiel a um contato mais íntimo e direto com o Sagrado através da
experiência estética que o belo pode proporcionar.
Para os que se interessarem em conhecer um pouco mais do meu trabalho convido a visitar
meu blog https://carloscalsavara.blogspot.com.br/ e a curtir minha Fan Page no Facebook
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